terça-feira, 31 de maio de 2011

Cai Chuva do Céu Cinzento - Fernando Pessoa


Cai Chuva do Céu Cinzento




Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.
Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.


(Fernando Pessoa)

sábado, 7 de maio de 2011

O TEMPO PASSA

E nada muda, além da tristeza que há dentro de mim, que cada dia aumenta mais e mais.
Essa solidão que dói, que me apunha-lá o coração, que cada vez que lembro de ti me da um aperto no peito,
Como se o meu coração não coubesse mais dentro de mim e fosse parar de bater.
Essa dor aumenta a cada dia mais.
Ao lembrar me que não mais te tenho aqui comigo.
Que você se foi e não vai voltar.
Mas sim, vai continuar vivendo dentro do meu coração!
Te amo e nunca vou te esquecer...
IN MEMORIAN DE IRACEMA PEREIRA

Lopes-Santos, R. – 18/11/2003



MEUS OITO ANOS
 Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos 
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!


Casimiro de Abreu